Racismo e futebol

Todo mal vem para bem. Que esse lamentável episódio leve à conscientização do valoroso povo nordestino

(Lincoln Pinheiro)


A eliminação de um time carioca esta semana na Copa do Brasil, em partida realizada contra o Ceará, despertou uma nova onda de racismo contra os nordestinos no twitter, assim como já acontecera depois do segundo turno das eleições presidenciais no ano passado. Naquela oportunidade escrevi este artigo:ibahia.com/a/falabahia/ feita os ataques contra os nordestinos partiram da torcida do time carioca conhecido como o time do “apito amigo”, na expressao cunhada pelo jornalista Milton Neves.

Vejam o nível dos torcedores daquele time, que também teve entre seus torcedores o General Garrastazu Médice, o mais sanguinário do período ditatorial: “Esses nordestinos pardos, bugres, índios acham que tem moral, cambada de feios. Não é atoa que não gosto desse tipo de raça”; “Só vim no twitter falar o qnto os NORDESTINOS é a DESGRAÇA do brasil. Pqp! bando de gnt retardada qe acham que sabe de alguma coisa”.Tenho afirmado em diversas oportunidades que a escolha do time não ocorre por acaso, mas revela o caráter do torcedor.

O mais trágico é que o time dos racistas acima é o que tem mais partidas televisionadas para o Nordeste, pois afirma-se que é o de maior torcida da região. É verdade que quem propala essa teoria não explica a diferença entre maioria relativa e maioria absoluta. Se é verdade que aquele time tem a maior torcida em termos relativos, certamente a maioria absoluta dos brasileiros repudia o time que representa o passado ditatorial, a corrupção no futebol, a traição e, agora, o racismo. Mas, e os nordestinos que influenciados pela mídia carioca torcem para aquele time? Com que cara vão se olhar no espelho? O que vão dizer a seus filhos? Todo mal vem para bem. Que esse lamentável episódio leve à conscientização do valoroso povo nordestino e que este passe a torcer para times de seu Estado, ao invés de torcer para times do Rio e São Paulo, onde vive uma elite preconceituosa que odeia nordestinos e não quer nem estação de metrô em seu bairro, para não atrair essa gente que ela, elite, considera uma ‘cambada de feios’.