Deus e o dinheiro
(crônica em homenagem ao Dr. Victor Carvalho Pinto, uma das minhas maiores referências na intelectualidade)
O Ministério Público Federal ajuizou uma ação contra o Banco Central do Brasil postulando a retirada da inscrição “Deus seja louvado” das cédulas de reais, sob o fundamento de que o Estado brasileiro é laico.
Um grande banco privado nacional, que já foi o maior, ostentava no passado o slogan: “nós confiamos em Deus”. Sua matriz está sediada em um complexo chamado “Cidade de Deus”.
O que Deus tem a ver com dinheiro? Praticar a usura é louvar a Deus?
Há 2012 anos um jovem casal partiu em uma caravana de Nazaré a Jerusalém para participar do recenseamento. Como não tinham dinheiro para pagar hospedagem, os jovens instalaram-se em um estábulo em uma aldeia periférica e a esposa, grávida, deu à luz ali mesmo. O menino nasceu em uma manjedoura, entre animais, e se tornou o nome mais influente do mundo ocidental.
Aquela criança cresceu em sabedoria, discutia com os doutores, mas não enriqueceu. Seguiu a profissão do pai, circulava trajando apenas túnica e sandálias, rodeado por pescadores e pecadores.
Mais de uma vez o dinheiro foi usado para tentá-lo. Em uma, os fariseus – os sabichões da época – questionaram-no se os impostos deveriam ser pagos. Olhando para uma moeda que continha a efígie de César respondeu: “daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Foi a primeira lição contra a sonegação fiscal e pela separação entre Estado e religião.
Em outra, expulsou os vendilhões do templo, pois o lugar de louvar a Deus não pode ser usado para ganhar o vil metal.
Tanto fez, tanto se rebelou contra o Sistema que acabou preso e sumariamente condenado à morte porque o supremo poder queria atender ao clamor popular. Antes de ser executado, foi torturado.
Muita coisa mudou desde então. Se vivesse hoje não poderia transitar pelos mesmos lugares, pois o Estado sionista e militarizado que se estabeleceu naquele território, após expulsar os palestinos de sua terra, construiu muros para segregar os habitantes originários e impedir a livre circulação das pessoas.
Seus seguidores – aqueles que se dizem cristãos, mas praticam o farisaísmo – trocaram as sandálias pelos sapatos Prada, a túnica pelos ternos Armani. Ao longo dos séculos - e em seu nome - praticaram a tortura, a pena de morte, a usura e a sonegação. Instalaram-se nas instituições estatais e inscreveram o nome de Deus nas cédulas de dinheiro. Igrejas viraram empresas para obter lucros sem pagar impostos.
No Império Romano, a efígie de César ilustrava o dinheiro; no mundo dominado pelos fariseus, o dinheiro é o próprio Deus.
Deus e o dinheiro
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