O Jogador

Artigo também publicado no jornal Hoje em Dia, no dia 26/08

 
 
O magnífico escritor russo Fiódor Dostoiévski, que era jogador compulsivo, escreveu a novela “O Jogador”, quando se encontrava endividado, e equilibrou suas finanças com os direitos autorais recebidos.

Dostoiévski abordou com maestria a alucinação que acomete os viciados em jogos e a desastrosa consequência financeira do vício.

No século XIX, o primeiro após a consolidação das revoluções burguesas, o tema do endividamento esteve bastante presente na literatura. Escritores clássicos como Dostoiévski, Balzac, Scott e Dickens trouxeram o assunto para a literatura e, não raro, um personagem judeu era identificado com a agiotagem.

Nas monarquias europeias, onde os reis acreditavam que seu poder tinha origem divina e o Estado era um braço da Inquisição, havia um forte preconceito contra os judeus.

No final daquele século surgiu o movimento político sionista, que se apropriou da causa judaica e passou a usá-la como escudo.

Os sionistas assumiram o controle de grandes corporações, fábricas de armas, bancos, agências de notícias,
imprensa, enfim, o chamado soft power, e passaram a acusar de antissemitismo todos aqueles que ousam criticar sua política.

Mas que fique bem claro: judaísmo não é sinônimo de sionismo e nem tampouco de agiotagem.

O capitalismo se desenvolveu e a exploração do jogo, legal ou ilegal, continuou abusando da vulnerabilidade do ser humano e sua propensão ao vício.

No Brasil, um grande gângster do jogo do bicho e dos caça-níqueis montou uma verdadeira empresa do crime, infiltrou-se nas instituições, aliou-se a parte da imprensa - à qual forneceu grampos para provocar escândalos políticos e da qual obteve proteção jornalística - e, mesmo preso, continua ameaçando juízes e promotores.

Até as crianças são vítimas da tentativa de cooptação pela jogatina.

Há poucos dias minha filha pediu para se inscrever em um site de games, “só R$8,50 por mês”. Expliquei a ela que R$8,50, capitalizados mensalmente à taxa de 0,5% resultam, ao final de 10 anos, em R$1.399,94 e ao final de 60 anos em R$60.261,21. Uma bela poupança, mas também uma soma monstruosa para quem se endivida.

Quem está do outro lado da banca conhece a mágica dos juros compostos e a vulnerabilidade dos viciados em jogos. Quantas pessoas já não dilapidaram o patrimônio e arruinaram suas famílias devido à jogatina?

Se o vício é da natureza humana, por que não se viciar em algo bom? O meu vício é a literatura. Qual é o seu?