Futebol não é só a bola

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De como, na "pátria de chuteiras", onde o futebol é a principal manifestação cultural, protegida por lei e pela Constituição, os torcedores - razão de ser do espetáculo - são desconsiderados e humilhados.
Por Lincoln Pinheiro Costa
 
 
 
O dramaturgo Nelson Rodrigues disse certa vez que “em futebol, o pior cego é o que só vê a bola”.
 
De fato, futebol profissional não é só a bola. É um fenômeno social, econômico e político e, se não nos atentarmos para isso, não conseguimos compreender alguns acontecimentos que tanta revolta causam aos torcedores.
 
Em artigo publicado no site www.portalibahia.com.br/falabahia com o título “Pelo Fim dos Campeonatos Estaduais”, analisei o tema pelo prisma econômico. Agora pretendo abordar o futebol como fenômeno social.
 
Não é exagero afirmar que o Brasil é o país do futebol, ou como dizem os cronistas esportivos: “a pátria de chuteiras”.
 
Mesmo aqueles brasileiros que não têm o hábito de acompanhar o dia-a-dia do futebol ou ir a estádios, sempre que perguntados respondem que torcem para algum time. No mínimo, torcem pela Seleção Brasileira.
 
Isso explica porque alguns clubes, mesmo não conseguindo colocar torcedores nas arquibancadas, aparecem em determinadas pesquisas como detentores de grandes torcidas.
 
Um parêntese: os institutos de pesquisa estão cada vez mais desmoralizados devido à falta de imparcialidade. Portanto, amigo leitor, desconfie sempre das pesquisas de opinião. O resultado da última eleição para governador na Bahia, completamente diferente do previsto nas pesquisas, confirma o que estou dizendo. E para se aferir qual a maior torcida, o melhor instituto de pesquisa é o “data roleta”. Fecho o parêntese e volto ao tema do artigo.
 
Ao lado do carnaval, o futebol é a principal manifestação cultural do povo brasileiro. Por isso, recebe da lei proteção semelhante à dedicada à cultura.
 
A Constituição determina que a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos princípios da regionalização da produção cultural, artística e jornalística.
 
O mesmo princípio deve ser aplicado às transmissões das partidas de futebol, porque a Lei Pelé estabelece que a organização desportiva do País integra o patrimônio cultural brasileiro.
 
Não é isso, contudo, o que acontece.
 
No Brasil, uma emissora de TV monopoliza os direitos de transmissão das principais competições nacionais e decide sozinha as partidas que cada brasileiro pode assistir, privilegiando sempre os times do eixo Rio-São Paulo; impondo a realização de partidas em horários exóticos e exigindo a mudança da tabela para atender seus interesses comerciais.
 
Lamentavelmente as autoridades competentes têm se omitido contra essas ilegalidades e os clubes não se unem para, juntos, assumirem o protagonismo na organização do campeonato.
 
Quem sabe o exemplo vindo da Argentina, onde o grupo Clarin, que mandava no futebol e humilhava os torcedores, perdeu os direitos de transmissão do campeonato argentino, sirva de inspiração para uma mudança também no futebol brasileiro?