A violência é um grande negócio

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Houve um tempo em que o pensamento conservador tentou difundir a ideia segundo a qual a história do Brasil não era marcada por fatos violentos, como em outros países, mas que aqui tudo se resolvia pacificamente. Citavam como exemplo a substituição da Monarquia pela República - sem guerra – e a transição lenta, gradual e segura idealizada pelo General Goubery.


Essa falácia não resiste à pesquisa, pois desde o descobrimento, a história do Brasil está tingida de sangue. Nos dias de hoje, os números da violência no campo e na cidade demonstram que morrem mais brasileiros vítimas de homicídios que em guerras declaradas e em andamento no mundo afora. Isto apesar das maquiagens estatísticas feitas em certos órgãos de segurança pública...


Porém, alguns empreendedores perceberam quão lucrativos podem ser os negócios ligados à violência.


Programas sensacionalistas de televisão, que exploram o pavor popular, atingem elevados índices de audiência, movimentam o mercado publicitário e rendem contratos milionários para seus apresentadores que, indignados, esbravejam contra a criminalidade que lhes garantem a audiência.


Jornais especializados em noticiar crimes, os famosos “pinga-sangues”, são os mais vendidos na atualidade. Parece que os brasileiros têm uma atração macabra por esse tipo de notícia.


Mais recentemente, uma outra modalidade empresarial vem fazendo sucesso no show business da violência: os UFCs Combates, essas brigas em ringue televisionadas, que afrontam a dignidade humana e transformam em heróis nacionais seres que se encontram abaixo de qualquer nível civilizatório.


Esse culto à violência retroalimenta mais violência e o aumento desta gera mais negócios: empresas privadas de segurança; fabricantes e instaladores de dispositivos de segurança eletrônica; fabricantes de armas de fogo são alguns exemplos de ramos de negócio que faturam alto com o medo da população.


Como consequência dos grandes índices de violência, surgem propostas demagógicas de restrição de direitos como solução para o problema: extinção de torcidas organizadas, proibição do direito de reunião e das manifestações populares, toque de recolher às 22h e endurecimento das leis penais, como se o direito penal fosse a panaceia para todos os males.


Outra consequência da violência está na quantidade de presos que temos no Brasil. Apesar da impunidade e de muitos crimes não serem apurados, o modelo punitivo que privilegia o encarceramento – em muitos casos desnecessários – faz do Brasil o país com a quarta maior população carcerária do mundo, contando com mais de 500 mil presos cumprindo pena.


O confinamento dessa grande quantidade de seres humanos também propicia negócios milionários: fornecedores de marmitas e de outros produtos e serviços necessários à manutenção dos presídios faturam milhões de reais.
Portanto, amigo leitor, enfrentar o problema da violência pode afetar interesses empresariais poderosos; e tirar o divertimento daqueles que se deleitam assistindo a esses shows de horrores na televisão.